quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Completos: dois

'A Raposa calou-se e considerou por muito tempo o Príncipe:

- Por favor… cativa-me! disse ela.'


O Pequeno Príncipe



sábado, 21 de janeiro de 2012

Disse doce, não suave

Contente, ela pensava em todos os detalhes; como prepararia, como levaria, como entregaria e como seria sua reação.

Empolgada, ela começou.

Era a melhor rapadura. Tudo parecia perfeito. Faria doce na medida agradável, bem trabalhada, do mais puro açucar. Feita devagar, preparada com carinho e dedicação. Cada detalhe seria feito com o maior cuidado.

E assim o fez.

Envoltou-a num papel simples, daqueles fáceis de se encontrar mas muitos nem ousariam usá-lo para algo tão especial. Ela, porém, combinava em cores toda a doçura do presente. Cada dobra, cada ponta, cada fita daquele laço, ainda que um pouco amarrotado pelas tentativas, mostravam quanto tempo e dedicação deixaram-os como estavam. Era como encontrar cada detalhe do artista em sua obra.

Foi-se quase o dia todo para que cada detalhe fosse feito e verificado até que chegasse a hora de entregá-lo.

Partiu.

Durante todo o caminho, ela pensava em como seria o momento. Chegou à praça. Percorreu nela o caminho estreito margeado pelas mais belas orquídeas. Era primavera. Acabara o frio mas ela sempre se inconformava ao pensar que tão belas flores nasciam sobre folhas mortas, decompostas das árvores. Chegou àquele banquinho, em frente à árvore mais florida, onde havia marcado de encontrá-lo.

Eram 6 horas de uma tarde quente e bonita. O pôr-do-sol e as flores faziam daquele um momento único. 


Esperou-o por uma hora, mas nenhum sinal dele. Mais uma hora; a noite caía, as pessoas voltavam as suas casas, mas ele não chegava. Esperou-o por quase quatro horas. Em vão.


Ele encontrara os amigos que há tempos não via. Ficou tão alegre em vê-los que acabou por pensar que a rapadura poderia esperar mais um pouco.

Todo ânimo esvaiu-lhe. Ela quase pôs-se a chorar. De repente, veio-lhe à ideia que isso de nada adiantaria e que já estava bastante tarde: o vento já estava mais fresco e a noite começava a esfriar.

Sem muito esperar, apanhou o presente, olhou-o e, ainda que visse toda sua simplicidade e que realmente se tratava apenas de uma rapadura, orgulhou-se do que via. Percebia em como cada pequena etapa tinha sido minuciosamente amada por ela. Desde o princípio.

Não era hora de menosprezá-lo. Era realmente digno de admiração de quem acompanhou, como ela, todas e cada transformação.


Levantou-se e pôs-se a caminhar. Decidiu voltar mas por outro caminho.

Atentou-se a algo que lembrou ter ouvido diversas vezes: ainda que dê-lhes da melhor rapadura, poucos saberiam para que lhes servem os dentes.

E sorriu.