quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sentidos de Diversos Sentidos

     Meia noite. Silêncio. Frio. Escuro. Vazio.

     Enquanto o mundo dormia, ou ao menos dela se escondia, ela estava acordada. Silêncio era só o que não se encontraria se nela dentro alguém pudesse ouvir. Se alguém quisesse ouvir. 

     Era fácil, ela fingia ser fácil. Empurrava o que não podia resolver, desacreditava por medo de sentir, andava por medo de ali ficar. Fazia da falta de força, a fortaleza. Ria porque seus olhos não podiam mais chorar. Ajudava pois a si não podia ajudar. Amava como nunca a pudessem amar. Dava o que nunca iria receber. Era feliz vendo o outro ser. Carregava a farda com bravura mas não escondia: era um desabrochar de ternura, de graça. De formosura, de ameaça. De constancia, de impaciencia. De dor, de amor. Ou de dor de amor.

     Não tinha mais como esconder mas ela evitava se questionar; tinha medo de não suportar. Medo do que foi sofrer onde só um amou, de se entregar e se quebrar, de se envolver e padecer. De amar e se negar. De querer e não poder.

     Jurasse ela não querer, não sentir, a ela não significar, omitir, não deixar que dela saísse o mais profundo afeto em forma de carinho e ainda assim podia-se ver tudo de uma essência sincera e transparente, aberta ao mundo sem medo de julgo, sem frescura, sem moldura, sem graça e sem postura à face exposta de tamanha contradição contida num único ser. Era feita de amor banhada à frieza. Era bela como flor banhada à pobreza. Era a dança banhada à tristeza. Era graça banhada à aspereza.

     O dificil era ela esconder toda doçura, toda beleza da alma, todo contágio do sorisso, toda infinidade de um olhar. Isso ela não fazia. Isso nem ela mesma conseguia. Isso era o que não podia sua forma feminina negar.

     Escreveu e afogou. Era tudo mas nem metade. Terminou sem acabar. Começou por querer. Deixou e não soube nem porque.
     Uma hora. Inquieta. Abafado. Abajur. À companhia de si.

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2 comentários:

  1. "O dificil era ela esconder toda doçura, toda beleza da alma, todo contágio do sorisso, toda infinidade de um olhar."

    e eu me apaixonei por todas essas emoções, formas, cores e sentimentos... todo o abismo que aparece dentro desses olhos verdes com castanho, toda alegria que brota do riso e do sorriso, o mistério e a aventura que é olhar com os olhos da alma, para enxergar a alma por si só e o carinho de cheiro suave e marcante, doce e agradável dessa doçura que há nessa garota de olhos verdes e castanhos =)

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  2. Eu gostei dessa narrativa. Adoro tempo psicológico. =^)

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